segunda-feira, 5 de outubro de 2009

CONTROLES DOS IMPULSOS E AS DESORDENS DE COMPORTAMENTO

Impulsos são pensamentos que determinam comportamentos. O comportamento depende sempre do quanto de controle interno ou externo existe. Vamos pegar a fome para compreendermos melhor esse processo: Você está no trabalho e sente fome, quer comer algo. Porém, você quer terminar algo que está fazendo antes de ir comer. A essa capacidade de adiar, chamamos de controle interno. Pode acontecer que você esteja um pouco acima do peso e deseje emagrecer. Então, você utiliza o controle interno para inibir suas idas à geladeira e só come na hora das refeições. O controle externo é uma limitação que você encontra no exterior. Suponhamos que você está apaixonado por uma mulher e descobre que ela é casada e gosta do marido. Este é um controle externo, ou seja, uma condição que o impede de namorar a mulher. Esses dois controles podem funcionar juntos. Por exemplo, muitas vezes, quando desejamos uma coisa que não podemos comprar, temos uma inteiração de controles (internos e externos) atuando em conjunto. Você evita tomar o objeto do desejo porque teme ser surpreendido e preso.


Muitas pessoas acreditam que, como humanos, muitos de nossos impulsos estão voltados para comportamentos ruins. Isso não é verdade. Os impulsos bons são permitidos e tidos como normais e assim, não os observamos com a mesma atenção com que observamos os impulsos ruins. Mas ter impulsos ruins, não é em si mesmo um problema. Todos nós os temos em alguma quantidade e isso é normal. O problema começa quando não há um controle forte o bastante para nos impedir de atuar o impulso. Se não temos um bom controle interno, teremos comportamentos que são prejudiciais e socialmente inaceitáveis. Quando um individuo não tem um bom controle sobre seus impulsos , dizemos que ele sofre de impulsividade ou Desordem no controle dos impulsos.


Geralmente o controle externo ( ou o respeito às normas) é estabelecido em casa a partir da relação da criança com os pais. Se estes não sabem como controlar seus impulsos, poderão ser abusivos e violentos com a criança que, por sua vez, não aprenderá a controlar seus próprios impulsos. Por exemplo: uma criança vê que seu pai ou sua mãe, usam o álcool para " aliviar" as tensões. Mais tarde, a criança poderá usar o próprio álcool como também a outras drogas, para descarregar suas tensões. Ela aprendeu isso em casa. Ela não terá controle sobre o impulso de fazer uso de substâncias. Geralmente a falta de controle dos impulsos está relacionada á dificuldade de controlar o envolvimento com as drogas.


No trabalho de avaliação psíquica, temos duas maneiras de abordar o problema de controle de impulsos: detectar se a origem do problema é interna ou externa. Normalmente, quando o controle externo está comprometido, podemos dizer que é algo mais fácil de resolver. No caso das crianças, procuramos trabalhar com os pais. Tentamos ajudá-los a estabelecer controles externos que sejam eficientes e não abusivos. Esses controles, vão se transformar em controles internos tão logo a criança amadureça. Mas esse é um trabalho bem difícil porque os pais têm que mudar seus comportamentos e isso, não é algo fácil de ser feito. Geralmente manda-se o filho ao terapeuta para que " ele" solucione o " pepino". Mas não é assim que funciona. É absolutamente fundamental que os pais participem do processo se quiserem obter algum resultado eficiente. Se um pai é agressivo e reage com irritação a tudo que lhe acontece, está mostrando aos seus filhos que os impulsos não são controláveis. Esse tipo de pai terá que mudar esse e outros comportamentos para que seus filhos possam aprender a conterem os seus.


Quando o controle interno estiver faltando, teremos um grande problema para solucionar a dificuldade. Primeiro temos que descobrir se o controle existiu e está se perdendo ou, se nunca existiu. Também temos que saber se os problemas envolvidos são emocionais e físicos. Os problemas de ordem física podem requerer o uso de medicamentos. Mas em geral, o que se observa é que não houveram controles externos bem estabelecidos de forma que o controle interno também não se estabeleceu . Na maior parte das vezes, os limites externos foram estabelecidos através do abuso e até mesmo da violência. Quando colocados dessa maneira, o controle dos impulsos não se estabelecem porque o próprio padrão utilizado pelos pais, é de ausência de controle.


Cabe lembrar que o excesso de controle pode ser tão ruim quanto a inexistência dele. Muitas pessoas ficam extremamente inibidas e impossibilitadas de fazerem coisas que gostam e lhes dão prazer porque tem um controle excessivo. Tal excesso de controle pode dar origens a algumas patologias mentais que são demolidoras para o indivíduo. O grande segredo é o bom senso das meias medidas.


A impulsividade é uma das grandes causas de problemas ligados à delinqüência juvenil e á psicopatia. Uma das características mais importantes da psicopatia é a impulsividade, pelo menos no que diz respeito aos psicopatas homens. Parece que com as psicopatas do sexo feminino, a impulsividade não é um traço determinante.


A falta de controle interno determina uma infinidade de comportamentos anti-sociais. Por exemplo, um indivíduo deseja uma coisa que não pode ter. Para um indivíduo que tem os controles internos bem estabelecidos, haverá uma adiamento da necessidade de gratificação ( possuir o objeto) e o indivíduo criará meios lícitos de obter o que deseja. Isso implicara no reconhecimento do desejo, no planejamento de meios possíveis de obter o que deseja e na realização desses projetos para enfim adquirir o que deseja. Nesses casos, a conquista trará um aumento de auto-estima e ampliara a capacidade de buscar problemas mais e mais complexos para serem solucionados. Com as emoções o controle interno também é fundamental. Se um indivíduo fica com raiva de alguém, ainda que seja de forma justa, o controle interno vai ajudá-lo a determinar até onde ele pode chegar com sua reação. Caso o controle interno não exista, ou seja, está mal estabelecido, o indivíduo raivoso pode matar. Pode também feri-lo. Caso haja algum controle, pode ofendê-lo verbalmente. Se o controle interno for adequado, poderá conversar de forma madura sobre a situação expressando sua frustração e descontentamento.


Um exemplo de comportamento impulsivo é a mentira. O mentiroso é um impulsivo, pois não consegue controlar a mentira e assim, mente de forma automática quando se sente humilhado ou ameaçado. Por exemplo, um jovem mentia sobre sua família. Ele atribuía-lhe uma importância que ela não possuía. Isso nos indicava que ele sentia vergonha de sua família e, portanto, precisava enfeitá-la para mostrá-la aos outros. Ele não conseguia controlar-se, mesmo quando sabia que estava mentindo. Inventava um pai que não tinha, uma mãe que não tinha e um irmão que não tinha. Tudo isso era feito de maneira impulsiva, ou seja, o indivíduo não tinha controle. Tudo vinha automaticamente. Na medida em que se reconstituía a história de vida do paciente, observou-se que a mãe era uma mulher que viera de uma família muito pobre à qual detestava. Ela casara-se com um homem de classe média e, pouco tempo depois, separara-se dele. Ela apresentava-se como alguém que era da família do marido e não de sua família de origem. Ou seja, a mãe era ela mesma, uma mentirosa impulsiva. Sempre que alguém vinha fazer alguma reclamação de seus filhos, ela ficava tomada de tamanha ira, que agredia os filhos com violentas surras. Depois de passado o momento, ela ficava aturdida com o que havia feito, mas repetia esse comportamento com freqüência.


A impulsividade é um distúrbio mental que gera um padrão comportamental que prejudica não só o indivíduo acometido como também aqueles que estão à sua volta. Dentre esses comportamentos impulsivos, como já dissemos, está a mentira, a cleptomania, alguns dos distúrbios alimentares como também alguns padrões auto-destrutivos.

Tratar os comportamentos impulsivos, é uma necessidade já que os indivíduos que sofrem desse tipo de problemas, sempre acabam por prejudicar-se e em muitas ocasiões, metem-se em enrascadas que podem levá-los até mesmo ao aprisionamento. Muitas vezes a impulsividade impede o desenvolvimento do raciocínio porque o indivíduo é tomado de uma grande ansiedade e assim fica impedido de desenvolver habilidades necessárias ao desenvolvimento dos traços que determinam a inteligência.

Por Mário Quilici - Setembro de 2002


Mario Quilici, psicanalista, é um pesquisador independente e ativo do desenvolvimento infantil e de como os distúrbios do vínculo entre os Bebês e seus pais podem levar ao surgimento de psicopatologias na medida que impedem um adequado desenvolvimento emocional e conseqüentemente da personalidade. Desenvolve trabalho clínico com adultos, casais e famílias bem como com orientação de pais. Dedica-se também ao estudo de neuropsicologia e psiconeuroimunologia.
Fones:3256-1748/3256-4732

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